terça-feira, 29 de março de 2011

Morre José Alencar

O empresário e ex-vice-presidente José Alencar Gomes da Silva, 79 anos (17 de outubro de 1931), morreu nesta terça-feira (29/03), às 14h41, no Hospital Sírio Libanês, após longa batalha contra o câncer. Segundo o boletim médico, a causa da morte foi câncer e falência de múltiplos órgãos. O ex-vice-presidente foi hospitalizado na tarde de ontem (28/03) depois de sentir fortes dores abdominais.

Em Coimbra (Portugal), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que frequentemente visitava Alencar, acompanhava o estado de saúde do amigo. Ele chegou a telefonar para o médico do ex-vice-presidente. Alencar tinha recebido alta do Hospital Sírio-Libanês há 12 dias. No início de janeiro, Alencar disse que lutava para não morrer.

Nos últimos anos, as sessões de quimioterapia e as hospitalizações fizeram parte da rotina de Alencar. Desde 1997, ele enfrentou 17 cirurgias para extrair tumores malignos. O câncer na região do abdome foi descoberto em 2006. O empresário também enfrentou câncer no rim, no estômago e na próstata. Casado há 55 anos com Mariza Gomes da Silva, de 75 anos, deixa três filhos (Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia) e sete netos.
AFP
Alencar recebe a visita de Lula e Dilma logo após a vitória das eleições no ano passado (Foto: arquivo Época NEGÓCIOS)

Comerciante
Nascido em Muriaé, na Zona da Mata mineira, em 17 de outubro de 1931, Alencar foi o décimo-primeiro dos 15 filhos de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Com sete anos de idade, começou a trabalhar ajudando o pai em sua loja.

Aos 14 anos, o menino, que só estudou até o primeiro ano ginasial (primeiro ano do Ensino Fundamental) , deixou a casa dos pais para trabalhar como balconista numa loja de armarinhos chamada “A Sedutora”. Mas o mineiro queria mesmo era empreender. Tanto que foi emancipado aos 18 anos para abrir a sua primeira lojinha "A Queimadeira", localizada na cidade de Caratinga (MG) . Para se transformar em empresário, Alencar contou com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva, que lhe emprestou quinze mil cruzeiros. Lá, ele vendia chapéus, calçados, tecidos e outros artigos.
Ricardo Stuckert/PR
Com sua mulher Mariza e o casal Lula e Marisa, em festa junina na Granja do Torto

Manteve sua loja até 1953, e, depois disso, teve uma breve passagem no ramo de cereais. Mas logo voltou ao ramo têxtil. Em 1969, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, Alencar fundou a Companhia Tecidos Norte de Minas, a Coteminas, hoje o maior grupo têxtil do país.

Entre 1985 e 1994, o patrimônio líquido da Coteminas aumentou de US$ 40 milhões para US$ 492 milhões. A empresa arrecadou US$ 14 milhões em ações vendidas em 1992. Nesta época, Alencar se enveredava para a carreira política e decidiu concorrer ao Governo do Estado de Minas Gerais. O empresário foi o terceiro colocado, com quase 1 milhão de votos.

Em 1994, passou o comando da empresa para seu filho, Josué Gomes da Silva, que mesmo sendo filho do dono, nunca teve privilégios. A política da companhia é clara, a direção é composta por vários profissionais do mercado e o que mais pesa é o talento individual. “Ele me ensinou a viver para a empresa, e não da empresa; que os demonstrativos contábeis são o verdadeiro retrato dela e que o mais importante não são as paredes e as máquinas, e sim as pessoas”, afirmou o filho recentemente.

Em 2001, a Coteminas comprou a participação de sua parceira, a Artex, na joint venture Toalia. E, com isso, acabou incorporando a Toalia S.A. Indústria Têxtil em suas próprias operações. E as aquisições não pararam por aí. Em 2005, a Coteminas comprou a americana Springs Global, uma das maiores fabricantes de camisetas do mundo (com faturamento de US$ 2,5 bilhões) por um valor de US$ 1,6 bilhão. Com a fusão das duas estruturas, a base de 11 fábricas da Coteminas passou para 34 plantas, com um total de 25 mil empregados em seis países.

O negócio transformou a empresa de Alencar na maior fabricante mundial de produtos para cama, mesa e banho. Em abril de 2009, a empresa pagou R$ 55 milhões por 65% da rede de lojas MMartan, varejista especializada no setor, uma estratégia usada para encurtar o caminho entre o chão de fábrica e a casa do consumidor.

Alencar começou seus passos políticos como presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Candidatou-se às eleições para o governo de Minas Gerais em 1994 e, em 1998, disputou uma vaga no Senado Federal, pelo Partido Liberal (PL), elegendo-se com quase três milhões de votos.
Agência O Globo
José Alencar desce a rampa do Palácio da Alvorada ao lado do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a indicação do nome do empresário para vice-presidente foi bem aceita por empresários e mal vista pelos petitstas radicais

Vida política

O empresário teve um papel importante na eleição presidencial em 2002. A escolha de Alencar para ser o vice da chapa petista resultou em bom trânsito do PT com setores conservadores. Ele se tornou interlocutor do novo governo com setores empresariais e ajudou a diminuir os preconceitos contra o PT. A presença de Alencar, um dos homens mais ricos do País, na chapa de Lula era vista como um fator de tranquilidade.
Com voz pausada e um jeito de quem estava contando uma prosa e não discursando, Alencar contou a história de sua vida na Convenção Nacional do PT, em São Paulo. Falou sobre as semelhanças de sua vida com a de Lula. Disse que era de família pobre e por isso teve que começar a trabalhar cedo. Assim como Lula, ele também não tem diploma universitário. Com algumas economias, pagou aulas particulares de matemática e português. No fim do discurso, não se ouviam mais vaias dos membros radicais do partido.

Mas os radicais do PT não o viam com tanta admiração. Muitos eram contra seu nome para ser o vice de Lula. Os membros do PT considerados xiitas faziam críticas acirradas a Alencar e chegavam a vaiá-lo quando ele discursava.

Em junho de 2002, com voz pausada e um jeito de quem estava contando uma prosa e não discursando, Alencar contou a história de sua vida na Convenção Nacional do PT, em São Paulo. Falou sobre as semelhanças de sua vida com a de Lula. Disse que era de família pobre e por isso teve que começar a trabalhar cedo. Assim como Lula, ele também não tem diploma universitário. Com algumas economias, pagou aulas particulares de matemática e português. No fim do discurso, não se ouviam mais vaias dos membros radicais do partido.
Glaucio Dettmar
Em 2005, em uma cerimômia com Lula: sempre contrário às altas taxas de juros

Taxa de juros

Na contramão de toda a equipe do governo, o ex-vice-presidente sempre defendeu de forma enfática a redução das taxas de juros. Dizia que os consumidores brasileiros pagavam “taxas de juros despropositadas”. Também costumava defender a redução da taxa Selic. “Uma taxa de juros como a do Brasil é um crime”, afirmou em junho do ano passado.

Luta contra o câncer
Nem nos piores momentos, marcados pelo cansaço e enfraquecimento causados pela doença, Alencar deixou de cumprir compromissos. Ele chegou a surpreender os médicos quando permaneceu até o fim da cerimônia da posse de seu segundo mandato. Mesmo visivelmente abatido pela quimioterapia.

Nas eleições de 2010, devido ao seu estado de saúde, Alencar decidiu não concorrer a uma vaga para o Senado. Mesmo debilitado, em cadeira de rodas, o vice-presidente fez questão de votar. Durante a posse de Dilma ele voltou a surpreender. Convidado, apesar de estar internado, afirmou que estaria presente ao evento. Só não foi porque os médicos e sua mulher o desaconselharam. Mas fez questão de vestir um terno e dar uma entrevista sobre a posse.

Para o filho, a tranquilidade e o otimismo com que Alencar enfrentou a doença foram as maiores lições que ele pode deixar. “Foi um exemplo de serenidade de quem viveu preparado para morrer a qualquer momento, mas com um espírito de quem não iria morrer nunca”.

Em entrevista à revista Época, sobre a ida e vinda do câncer, Alencar contou que não costuma ficar emocionado com notícias ruins e encarou o diagnóstico com objetividade. “Não tenho medo de morrer. Deus é quem mata. Se Ele quiser me levar, vai me levar mesmo. Nem precisa de câncer para isso”, afirmou o ex-vice-presidente.


Fonte: Época Notícias

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