sábado, 10 de dezembro de 2011

“Eu sou do tempo…”, por Teresa Ribeiro

“Eu sou do tempo…”
Quem, em algum momento de sua vida, já não ouviu esta frase, dita em tom saudosista?
Eu mesma, quando jovem, cansei de ouvir os “coroas” reclamando do que era novo e sempre achando que o tempo deles era melhor.
Pois não é que, agora, me pego cometendo o mesmo pecado e vivo dizendo…
Eu sou do tempo em que os jovens queriam mudar o país – e não mudarem a si mesmos, para se adaptar ao país.
Eu sou do tempo em que a MPB era criativa – não vivia de regravações – e Gil e Caetano falavam coisas coerentes.
Eu sou do tempo em que Faustão era um “perdido na noite” – não um bobo da corte.
Eu sou do tempo em que eleição era artigo de luxo e cada voto era uma conquista.
Eu sou do tempo em que o futebol alemão era “pragmático” e o brasileiro, sinônimo de arte. (Que me perdoem os campeões Dunga, Emerson e Gilberto Silva, mas eu prefiro os “não-campeões” Zico, Sócrates e Falcão.)
Eu sou do tempo em que os jogadores demonstravam amor à camisa – não às câmeras de televisão.
Eu sou do tempo em que a Copa do Mundo era jogada em países cuja população sabia a diferença entre impedimento e escanteio.
Eu sou do tempo em que…
Bem, poderia passar um bom tempo relacionando as boas coisas que, a meu ver, só aconteceram “no meu tempo”.
Mas, então, a minha memória resolve boicotar minhas doces recordações e, também, lembro que:
Eu sou do tempo da máquina de escrever, do carbono e do telex.
Eu sou do tempo das “carroças” que enferrujavam só de passar pela orla de Salvador.
Eu sou do tempo da moda das ombreiras e do cabelo estilo “mullet”.
Eu sou do tempo em que vivíamos sob a ditadura dos generais-presidentes.
Eu sou do tempo da inflação de 80% – ao mês.
Eu sou do tempo em que a CBF de Ricardo Teixeira ainda era a CBD de João Havelange.
Eu sou do tempo em que a decisão do campeonato brasileiro – quase sempre – era no tapetão e os cartolas manipulavam os campeonatos a seu bel-prazer: renda já foi critério de desempate; jogos que, quando acabavam empatados, eram decididos nos pênaltis; time “grande”, recém-caído, quando ficou em 9º lugar, em vez de subirem apenas 2, subiram 12; um time subiu, diretamente, da 3ª para a 1ª divisão; de vez em quando, ninguém era rebaixado; num ano, havia 40 times, noutro ano, 80…
Eu sou do tempo em que o Vitória era “comandado” por uma elite e José Rocha mandava e desmandava no clube.
Eu sou do tempo em que dizer que era torcedor do Vitória era quase como declarar-se proveniente de Marte.
Eu sou do tempo em que a imprensa baiana “puxava o saco” do rival e menosprezava nossas conquistas.
Eu sou do tempo em que a torcida rubro-negra lotava o estádio, mas não era vista; gritava a plenos pulmões, mas não era ouvida e, apesar de ter muito o que falar, sua opinião era censurada.
Então, olhando para trás, percebo que “meu tempo” não era aquela constante maravilha que minha memória teima em forjar e, mesmo constatando que muitas coisas negativas permanecem inalteradas, me rendo ao maravilhoso mundo novo, onde posso desfrutar:
De Internet, celular e Facebook.
Do fim da “ditadura da moda”.
Da satisfação de viver num país democrático, com tudo de bom – e ruim – que isso acarreta.
Das jogadas geniais de Neymar, Lucas e Ganso que me trazem a esperança do retorno do futebol arte.
Quanto ao Vitória…
Podemos ficar relembrando os velhos tempos, remoendo velhas mágoas e chorando conquistas não alcançadas.
Ou podemos aprender com o passado e planejar o futuro, trabalhando para torná-lo realidade.
Podemos ficar sentados, vendo a história se repetir, ininterruptamente.
Ou podemos mudar a história, como o MSMV propõe.
O MSMV já é realidade. Precisamos, agora, fortalecê-lo para que possamos atingir nosso objetivo maior: mudar a realidade do Vitória, através da participação ativa dos seus torcedores.
Não é uma tarefa fácil, mas, quem está reclamando? Eu, com certeza, não!
Pois é, vou abolir a expressão “eu sou do tempo…” do meu dicionário.
Prefiro dizer: “eu sou deste tempo”. E o tempo é agora!
Feliz 2012 a todos."

Fonte: Movimento Somos Mais Vitória

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