quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Metade das crianças chega analfabeta ao 5º ano

O poder público – quer seja os governos federal, estaduais ou municipais – passou a comemorar o fato de o Brasil ter conseguido nos últimos 20 anos garantir escolas para a maioria das crianças. Hoje 98% delas, entre 7 e 14 anos, estão matriculadas em alguma instituição, ante uma média de 70% a 80% no início da década de 90. A escolaridade média nesse período passou de cinco para sete anos de estudo. O mesmo poder público, no entanto, tem tido dificuldades para enfrentar um problema maior: a baixa qualidade do ensino em todos os níveis, do fundamental à universidade.

Na avaliação de João Batista Oliveira, ex-secretário do Ministério da Educação e consultor do Banco Mundial, a base do problema está na alfabetização – ou melhor, na falta dela. Oliveira coordenou a aplicação de um teste em 300 000 alunos de escolas públicas que alcançaram média 175, de um total de 500 pontos, na Prova Brasil de Língua Portuguesa. Resultado: entre 30% e 50% dos estudantes chegaram ao 5º ano identificando letras e palavras, mas sem entender o significado do que liam e sem conseguir escrever textos compreensíveis, o que os coloca, na prática, na posição de analfabetos.

Oliveira acredita que a deficiência é consequência de um modelo falho de ensino, que não valoriza o ensino das primeiras letras, não utiliza testes para medir a alfabetização, não incentiva as faculdades a formar alfabetizadores e, pior, incapaz de ensinar, permite que a criança passe de uma série a outra acumulando carências. Num efeito dominó, não entender o que se lê prejudica a capacidade de milhões de brasileiros de absorver conhecimentos novos ao longo de toda a sua vida estudantil, profissional e até pessoal. Enquanto os governos fingirem que a escola ensina e que as crianças aprendem, o país vai continuar comemorando a quantidade, sem esperança de alcançar a qualidade.

Fonte: Exame Abril

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