domingo, 31 de julho de 2011

Todos contra Ricardo Teixeira, inclusive Dilma Rousseff

A cerimônia do sorteio das Eliminatórias da Copa de 2014 serviu para colocar em xeque o poder de Ricardo Teixeira, que se considera o dono da CBF e do próprio futebol brasileiro. Do lado de fora do palco montado na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, cerca de mil manifestantes gritavam “Fora, Teixeira!”, espécie de caixa de ressonância de um movimento na internet com mais de 100 mil tweets pedindo a cabeça do cartola.
Durante a festa, um Ricardo Teixeira completamente apagado e constrangido viu a presidente da República Dilma Rousseff encher a bola do Rei Pelé, nomeado por ela Embaixador Honorário da Copa do Mundo, e tratado em seu discurso como “meu querido” e “inesquecível”. O auditório inteiro aplaudiu o Rei do Futebol, exceto Teixeira, que sequer o havia convidado para a cerimônia. Nem Pelé, nem Romário, o herói do tetra, hoje deputado federal.
A verdade é que Ricardo Teixeira aumenta a cada dia sua coleção de desafetos. Talvez por superdimensionar seus poderes, o presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) não respeita ninguém e não aceita conselhos. Seu reinado na CBF começou em 1989, no feudo herdado do ex-sogro João Havelange, que chefiou a confederação nacional entre 1957 e 1974.
É difícil, mas não é impossível deletar Ricardo Teixeira da sua cadeira. A CBF é uma entidade privada. Uma instituição muito rica e independente, a despeito do estado de penúria em que se encontram todos os grandes clubes brasileiros (ler post sobre a evolução das dívidas dos clubes). Teixeira não gosta quando falam de suas finanças. Recentemente, numa entrevista à revista Piaui, reagiu assim quando perguntado sobre o assunto: “Que porra as pessoas tem a ver com as contas da CBF? Que porra elas tem a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade privada, não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?”
E qual seria o caminho para destitui-lo do poder? Pelo estatuto da CBF, estão aptos a votar os representantes das 27 federações de futebol estaduais e dos 20 clubes que disputam a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro no período de eleições, a cada quatro anos. Todos os 47 votos têm o mesmo peso. Isso significa que as federações de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com 11 clubes disputando a Série A do Brasileirão atualmente, possuem a mesma influência que as associações de Rondônia e do Piauí, sem um único clube nas três primeiras divisões do nacional.
Trata-se de um colégio eleitoral completamente desigual e anômalo. Mas é exatamente por isso que Teixeira mantem-se no poder há mais de duas décadas. Já foi alvo de CPI no Congresso Nacional e ultimamente vem sendo acusado pela BBC de Londres de atos de corrupção na Fifa, onde tem assento como integrante do Comitê Executivo.
À primeira vista, o poderoso chefão do futebol parece imune a todos esses ataques. Ocorre que, além das campanhas na internet, o “efeito Dilma” pode fazer a diferença nesse movimento contra Ricardo Teixeira. A presidente da República não vai compactuar com o autoritarismo e a arrogância da CBF. Ao escolher Pelé como Embaixador Honorário da Copa do Mundo, ela deu um recado claro de que já ouviu o clamor popular.
Não tem nada a ver com o futebol, mas também pesa contra Ricardo Texeira as recentes rebeliões na Tunísia, no Egito e na Líbia. Elas só ocorreram porque esses países e vários outros da região sofrem de uma espécie de “fadiga social generalizada”.
Daqui até a Copa de 2014, a tendência é que essa fadiga social contra Ricardo Teixeira aumente cada vez mais. E 2014 é o ano em que Dilma Rousseff provavelmente concorrerá à reeleição. Se ajudar a derrubar Teixeira, poderá se transformar numa candidata imbativel.


Fonte: Band

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